Cruzeiro Mirim é uma pacata cidade no interior de Minas.
Encravada entre verdes montanhas, não recebe sinal de celular. O computador então, é "avis rara" nas residências. É, praticamente, uma cidade perdida, parada no tempo, nos confins dos Gerais.
Para se ter uma ideia do movimento de Cruzeiro , a atração mais cobiçada da cidade é a missa semanal, rezada sempre aos domingos, às dez horas da manhã, ocasião em que toda a população, de cinquenta pessoas , comparece à praça principal e única , para a devoção e o passeio, com sua melhor vestimenta , a cuidadíssima " roupa de missa ".
Destaca-se no desfile da praça: Dona Mirian, a viúva do banqueiro; Cláudia Eugênia, a filha-herdeira, moça donzela e casadoira; o Prefeito, com seu bigodão; a dona Primeira Dama, com seu vestido de grife importado de Paris; e por fim, o Delegado, que é ateu, mas vai a Igreja apenas para mostrar a imponência de sua autoridade.
Faz vista também, a dona Pâmela, bonitona recém chegada à cidade, que dizem ser teúda e manteúda do coronel Firmino. Bandeou-se para os lados de cá faz pouco, trazendo costumes e novidades da cidade grande.
Apesar dessa aparente quietude, Cruzeiro Mirim ganhou fama internacional pela produção de um delicioso queijo azul, fabricado na fazenda da Dona Isabel, bisneta do coronel Epaminondas, um dos fundadores do local.
O queijo correu mundo por suas inexplicáveis propriedades afrodisíacas, curativas e rejuvenecedoras .
Era conhecido pelo nome de queijo da AVATAR ,o queijo azul, de três quilos, vendido inteiro ou em fatias no amazém do "seu" Lindauro, vizinho da botica do "seu" Reginaldo e do lado da bodega do Apolinário e da Dalva, tudo alí na praça.De gosto inigualável ,odor maravilhoso, enfim uma dádiva .
O queijo atraía ainda , muitos turistas que vinham conhecer e provar o AVATAR . Tinha até gente forasteira de místicas seitas, que se reunia na praça e entoava uma espécie de mantra ao redor da fonte luminosa. Bem na hora em que começava o esguicho d´agua e badalavam os sinos da matriz , todos comiam e murmuravam :
O queijo atraía ainda , muitos turistas que vinham conhecer e provar o AVATAR . Tinha até gente forasteira de místicas seitas, que se reunia na praça e entoava uma espécie de mantra ao redor da fonte luminosa. Bem na hora em que começava o esguicho d´agua e badalavam os sinos da matriz , todos comiam e murmuravam :
hummmmmmmmmmmmmmm,hummmmmmmm,hummmmmmmmmmmmmmmmmm, hummmmmmmmmmmmmm...
Se o queijo fosse gente, já haveria até pedido de beatificação protocolado no Vaticano, por ordem do Padre José, que, bem rápido, mandou a Sofia, a Secretária da Paróquia, montar uma barraquinha com imagens de santos , tercinhos e garrafinhas de água-benta para vender aos fiéis do queijo. Sabem como é, as esmolas eram escassas na pacata cidade.
Tinha gente que guardava o queijo na bolsa, igual a relíquia, para durar o ano inteiro e ir comendo aos poucos. Outros, costuravam em pedacinhos de panos como patuá e carregavam na roupa. Outros, ainda, colocavam dentro dos potes de alimentos para a comida render mais.
Vinham excursões de todo o Brasil a procura do queijo que era raro, pois produzido apenas uma vez ao mês e em um único exemplar. Diziam que era muito difícil a sua fabricação porque demandava ingredientes secretos e rituais próprios do AVATAR e daí, a sua preciosidade.
Certa feita, um jornalista, atraído pela fama do AVATAR , foi visitar o lugar e fazer uma reportagem especial sobre o queijo , aproveitando o ibope do filme de igual nome...
Chegando à cidade, foi à Fazenda de Dona Isabel. Lá , deparou-se com uma cozinha rústica e a velha nega Fulô, tataraneta do escravo Israel, e, hoje, dona das terras, recebidas em paga de uma indenização trabalhista.
Perguntando sobre a produção do queijo e suas propriedades recebeu a seguinte resposta da Fulô, que continuava sentada num toco de árvore, pitando seu cigarrinho de palha, bem ao gosto mineiro: - Óia seu moço, isso eu num sei dizê não sinhô. O quejo é feito co' o leite da AVA GARDINEY a TAR de vaca holandesa que a Sinhá comprô. A cor azur é do paper crepão qui nóis imbruia o quejo e qui disbota na viage . Pesa treis quilo pruquê nóis só tem um tacho e nóis ponhamos os resto dos leite alí pra deixá ele azedá e pronto. Ninguém nunca recramô.
Decifrado o mistério, ninguém mais quis saber do queijo, mas, pelas montanhas no entorno da pequena Cruzeiro Mirim, ainda se ouve o eco das vozes do Prefeito, do Padre e do moço do armazém:
- Jornalistazinho filho da ****...
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